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Blog: O essencial do voluntariado: histórias, vivências e lições que transformam

Por Carolina Toffoli, Gerente do Instituto Algar

O voluntariado sempre fez parte da minha vida. Cresci em uma família que me ensinou a importância de servir ao próximo, acompanhando meus pais em ações ligadas ao Centro Espírita que frequentávamos.

Esses aprendizados moldaram minha visão de mundo e fizeram do voluntariado algo natural para mim, uma prática que mantenho até hoje.


Além disso, minha trajetória profissional me aproximou ainda mais dessa causa. Há 18 anos, atuo no Instituto Algar, que conta com um Programa de Voluntariado bastante estruturado, permitindo-me não apenas transformar vidas, mas também ser transformada por tantas vivências.


Durante esse tempo, conheci e me inspirei em inúmeras iniciativas de voluntariado, mas ao entrar em contato com o trabalho da Fraternidade sem Fronteiras, algo especial chamou minha atenção.

As histórias compartilhadas, as imagens, vídeos e a dura realidade vivida na África despertaram em mim um desejo profundo de agir. Foi então que decidi conhecer mais de perto esse trabalho e propus a realização de uma caravana coletiva.


Com esse espírito, embarquei em uma experiência única e transformadora no Campo de Refugiados de Dzaleka, no Malawi, um dos 5 países mais pobres do mundo, que fica no continente africano. Durante duas semanas, mergulhei em um universo de desafios inimagináveis, mas também de força, esperança e humanidade.


Foi uma experiência que não apenas ampliou minha visão sobre o mundo, mas reafirmou o poder do voluntariado como uma troca que transforma tanto quem ajuda quanto quem é ajudado.

Dzaleka: histórias de dor e superação

Dzaleka nasceu para abrigar 10 mil refugiados, mas hoje acolhe mais de 56 mil pessoas – homens, mulheres e crianças que deixaram tudo para trás em busca de paz e dignidade. Essas pessoas enfrentam dificuldades extremas: falta de moradia adequada, escassez de recursos básicos e, principalmente, a invisibilidade humana. Muitos vivem à margem de qualquer olhar externo, ansiando por serem vistos, ouvidos e respeitados.


O que traz alento e esperança para essa comunidade é o projeto Nação Ubuntu, da Fraternidade sem Fronteiras. Atualmente, o projeto emprega 873 trabalhadores locais, que recebem uma bolsa pelo trabalho realizado, chamada de motivação, e atende 934 crianças em uma escola construída ao lado do campo. Esse trabalho não apenas oferece sustento e educação, mas também reforça a dignidade e o sentido de pertencimento de quem já perdeu tanto.

Construindo mais que casas: reconstruindo sonhos

Nosso grupo de voluntários se mobilizou para construir casas, um gesto de acolhimento que traz segurança para famílias que enfrentam condições extremamente precárias. Uma dessas famílias é a de Mayuma Rosafi, uma mulher de 42 anos que cuida sozinha de 10 filhos e 4 netos após uma tragédia familiar.


A alegria de Mayuma ao receber sua nova casa foi contagiante, mas escolher quem seria beneficiado foi uma decisão complexa, já que cada história no campo é marcada por dor e resiliência e todas as famílias eram extremamente vulneráveis.


Nossa meta inicial era construir apenas uma casa, arrecadando R$ 17 mil. Mas, graças à mobilização nas redes sociais, ultrapassamos essa meta e conseguimos arrecadar mais de R$ 121 mil – recursos suficientes para construir onze casas. Essa conquista reforça a força da solidariedade e o quanto podemos ir além quando unimos esforços.

Lições aprendidas: o que o voluntariado nos ensina

Estar em Dzaleka foi um banho na alma, uma oportunidade de aprendizado profundo. Em cada sorriso, abraço e gesto de gratidão, percebi que o voluntariado nos ensina lições valiosas:


1 – A força da resiliência humana: Mesmo em condições extremas, as pessoas continuam a sonhar, resistir e buscar uma vida digna.


2 – A empatia não tem fronteiras: Ajudar na África ou no Brasil não precisa ser uma escolha excludente. Podemos fazer a diferença em qualquer lugar onde exista sofrimento e necessidade.


3 – O poder transformador do voluntariado: Quando ajudamos, também somos ajudados. A experiência é um verdadeiro banho na alma.


4 – Dar visibilidade ao invisível: Essas pessoas, muitas vezes esquecidas, querem ser vistas, ouvidas e reconhecidas. Precisamos iluminar suas histórias e dar espaço às suas vozes.


5 – A importância da fé e da gratidão: Mesmo diante da fome e da escassez, há gratidão e oração. Ver pessoas famintas agradecendo pelo alimento e esperando sua vez para comer é uma lição de humanidade.


6 – As crianças nos ensinam alegria e afeto: Brincam com o que têm, pedem colo, distribuem abraços e lembram que a felicidade pode resistir às maiores adversidades.


7 – A força das mulheres: Elas carregam a dureza da vida em seus rostos, mas seguem fortes e batalhadoras, sustentando suas famílias com coragem e resiliência.


8 – A busca por paz e liberdade: Esses valores, que muitas vezes tomamos como garantidos, são os maiores sonhos de quem vive em condições de privação e insegurança.


9 – A simplicidade ensina muito: Pessoas simples têm lições profundas a oferecer, desde que estejamos abertos a aprender.

 

10 – A alegria que floresce na adversidade: Mesmo em meio ao sofrimento, o sorriso, a esperança e o acolhimento persistem.


11 – A mobilização multiplica o impacto: Com união e solidariedade, é possível alcançar mais do que imaginamos. A meta inicial de uma casa se transformou em onze.


12 – O verdadeiro significado de dignidade: Essas pessoas poderiam reclamar de tudo ou pedir tudo, mas nos pedem trabalho, escola e moradia. Sua luta é por direitos fundamentais.

O impacto do voluntariado

O que mais me marcou foi perceber que, mesmo nos cenários mais desafiadores, a fé e a esperança florescem. Em Dzaleka, elas aparecem nas crianças que vão à escola com brilho nos olhos, nos trabalhadores locais que reconstruíram o sentido de suas vidas e nas orações que ecoam em meio às tendas improvisadas.


Minha gratidão vai à Fraternidade sem Fronteiras e ao projeto Nação Ubuntu, que nos se abriu para nossa parceria e nos deixou vivenciar a fraternidade. Eles transformam a realidade de tantas pessoas. Gratidão aos voluntários que acreditaram e se engajaram nesta causa. 


Tanto aos meus colegas que foram viver o voluntariado, quanto àqueles que fizeram suas doações e vibrações à distância. Que esta experiência inspire outros a estender a mão, a enxergar o outro e a acreditar que pequenas ações têm o poder de mudar o mundo.


O voluntariado nos ensina que, quando transformamos vidas, também somos transformados. É um caminho de aprendizado, troca e crescimento que ilumina tanto quem ajuda quanto quem é ajudado.

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