Quantos bons exemplos você ouviu hoje? E quantas reclamações? Sem ter que pensar muito, suspeito que o número de reclamações tenha superado o de bons exemplos. É possível, inclusive, que você mesmo tenha protestado mais do que sugerido soluções. Esse é um hábito das pessoas sobre o qual tenho refletido nos últimos tempos. De onde vem? Quais as suas implicações? Como mudá-lo?
No livro “O princípio de Oz”, Roger Connors, Tom Smith e Craig Hickman propõem uma importante discussão sobre accountability – ou responsabilização – como uma ferramenta de gestão. Mas não é de apontar culpados que os autores tratam. Pelo contrário. É de cada um assumir a responsabilidade pelo que há para ser feito.
Acima da linha e abaixo da linha
À certa altura da obra, uma metáfora é usada para distinguir sucesso de fracasso. Segundo os autores, uma linha tênue separa esses dois universos. Acima da linha está a atitude de observar o que acontece, apropriar-se da situação, solucioná-la e fazer novamente. Empresas com lideranças acima da linha estão fadadas ao sucesso.
Já abaixo da linha está o jogo da acusação. Ele compreende as pessoas que se sentem reféns das situações, que culpam os outros, que se focam no que não podem fazer para resolver um problema (em vez de se dedicarem ao que podem). Estão abaixo da linha as empresas que preferem buscar justificativas no lugar de confrontar os fatos ruins diretamente – e solucioná-los.
Embora “O princípio de Oz” trate de gestão de empresas, vejo uma aplicação prática dos conceitos “acima” e “abaixo da linha” em nossas vidas pessoais e em sociedade. Nos círculos que costumo frequentar, ouço sempre frases como “o problema está no governo”, ou “com a economia desse jeito, não dá”, ou ainda “a culpa é de fulano ou beltrano”. Não conheço precisamente as origens dessa tendência de responsabilizar os outros pelo o que acontece consigo mesmo. Mas desconfio que quem age dessa forma ainda não se deu conta de que apresenta uma atitude claramente “abaixo da linha”.
Entendo que algumas situações não previstas gerem indignação e incomodem os envolvidos. Mas sejamos francos: o que cada um de nós está fazendo para ser protagonista da própria vida, e não um mero coadjuvante? O que estamos fazendo para definir nossos rumos, e não apenas sofrer as consequências dos rumos que os outros definem?
Proponho aqui um desafio: que tentemos dar um basta ao ciclo vicioso da vitimização. E que no lugar disso, sejamos o exemplo positivo que sempre queremos encontrar nos outros. Estejam certos de que não é tão difícil assim.
Tenho a convicção de que cada leitor deste artigo tem um bom exemplo para contar. Algo que fez e funcionou, uma atitude que deu bons resultados, uma palavra que fez a diferença, uma ação que chamou a atenção de quem estava por perto. Sugiro que nos dediquemos a comunicar esses exemplos de maneira mais assertiva e para mais pessoas.
Todos os dias, conte um fato positivo que você tenha vivenciado a alguém. Esse compromisso terá dois efeitos imediatos. O primeiro, influenciar quem está ao seu redor com o que de bom você já fez. O segundo, estimular você mesmo a fazer mais e melhor. Seus novos feitos serão matéria-prima para o que você contará amanhã, e depois, e depois.
Não é preciso querer mudar o mundo da noite para o dia. Mas é essencial ter a consciência de que as pequenas atitudes podem ser exemplos transformadores. A construção de uma família, uma cidade ou um país melhores depende de nós na primeira pessoa, e não na terceira. Eu posso, eu faço, eu sou o responsável, eu transformei. Esse é o mindset que nos levará à frente de verdade.
Que bom exemplo você vai contar hoje?
Fonte: Época Negócios
Escrito por Luiz Alexandre Garcia – Presidente do Conselho de Administração do grupo Algar